Em Homenagemao meu avô materno
Álvaro de Sousa Espada
"O Espada"1896 - 1932
Álvaro de Sousa Espada, nasce no domicilio da família, uma casa sita na rua da Junqueira nº 252, da freguesia de Santa Maria de Belém, em Lisboa, ás seis horas da tarde de uma sexta-feira cinzenta de Inverno, dia 10 de Janeiro de 1896. É o terceiro e último filho de Joaquim António Espada, um alentejano, natural da freguesia de Panóias, concelho d’Ourique, e Luísa Maria de Sousa, lisboeta alfacinha, natural da freguesia de Santa Maria de Belém.
Álvaro Espada perde sua mãe e seus irmãos muito cedo, ali vai crescendo entre familiares e amigos na rua da Junqueira a Belém até ao dia 1 de Abril de 1914, dia em que Joaquim seu pai, resolve mudar de casa; Álvaro com 18 anos, foi então morar com seu pai e sua madrasta para um modesto 1º andar alugado, na rua das Mercês no n.º 71, na mesma freguesia de N. Senhora de Belém, o actual n.º 27 da mesma rua da freguesia da Ajuda.
Álvaro Espada perde sua mãe e seus irmãos muito cedo, ali vai crescendo entre familiares e amigos na rua da Junqueira a Belém até ao dia 1 de Abril de 1914, dia em que Joaquim seu pai, resolve mudar de casa; Álvaro com 18 anos, foi então morar com seu pai e sua madrasta para um modesto 1º andar alugado, na rua das Mercês no n.º 71, na mesma freguesia de N. Senhora de Belém, o actual n.º 27 da mesma rua da freguesia da Ajuda.
Casa da família Espada sita na R. das Merçês nº 27 1ª andar,
na freguesia da Ajuda em Lisboa.
Sopravam os ventos da guerra que iriam envolver o mundo, a I Grande Guerra 1914 /1918. A pedido de Inglaterra, em guerra com a Alemanha, Portugal, entre Fevereiro e Julho de 1916, requisitou todos os navios mercantes alemães atracados em portos portugueses. Motivo para a Alemanha declarar guerra a Portugal no 9 de Março de 1916.
Em Lisboa sentia-se o movimento das milícias, e os preparativos para a Guerra ao lado das forças aliadas, Portugal entra na Primeira Guerra Mundial.
O Exército preparou um Corpo Expedicionário Português constituído por mais de 50.000 homens que embarcou para a Flandres, onde se integrou no comando inglês em operações. Em 9 de Abril de 1918 participou activamente na Batalha de La Lys.
Lisboa, R. de Belém 1916
Preparativos para o embarque das tropas
Preparativos para o embarque das tropas
que vão combater na 1ª Guerra Mundial 1917.
Embarque de tropas para França.
Foto de Joshua Benoliel
12 de Fev. 1917 Cais de Sta. Apolónia,
embarque do 1º contingente do C.E.P. para a Flandres,
após a entrada de Portugal na guerra.
Foto de Joshua Benoliel
embarque do 1º contingente do C.E.P. para a Flandres,
após a entrada de Portugal na guerra.
Foto de Joshua Benoliel
Álvaro de Sousa Espada
Soldado nº 80, de Artilharia
"Em Perigos e Guerras Esforçados"
Álvaro de Sousa Espada é mobilizado para a I Grande Guerra.
É por volta de 1916 / 1917 que Álvaro de Sousa Espada é alistado no Exército, soldado nº 80, de artilharia.
Mas é no ano de 1917 que é chamado a engrossar as fileiras dos combatentes e é incorporado no 2º Grupo (de transportes), 4º Bateria de Artilharia de Guarnição, 6ª companhia, integrando no (C.E.P.), Corpo Expedicionário Português.
Distintivo do Corpo Expedicionário Português
Breve preparação de recrutamento em Tancos,
Vila nova da Barquinha.
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Vila nova da Barquinha.
Entre 1915 e 1917, com a colaboração do General Tamagnini, o responsável pela organização do Corpo Expedicionário Português, no centro de instrução de Tancos (o chamado milagre de Tancos) que tão depressa e bem (de acordo com relatórios oficiais) se transformaram em soldados aptos e capazes para um conflito duro homens que, pouco tempo antes, tinham uma vida civil, pacata e tranquila.
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Treino de recruta de campo em Tancos,
com a velhinha "Mauser - Vergueiro" nacional.
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"Esta é a ditosa pátria minha amada."
E estes eram os filhos da nação que levaram consigo a nova bandeira e o novo hino nacional "A Portuguesa" que deram a conhecer aos quatro cantos do mundo.
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"Esta é a ditosa pátria minha amada."
E estes eram os filhos da nação que levaram consigo a nova bandeira e o novo hino nacional "A Portuguesa" que deram a conhecer aos quatro cantos do mundo.
1917 - Praça do Comércio em Lisboa,
desfile militar de embarque de tropas para França.
Foto de Joshua Benoliel.
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Cais de Santa Apolónia
Tropas Portuguesas do C.E.P. no cais de embarque para França.
Tropas Portuguesas do C.E.P. no cais de embarque para França.
Foto de Joshua Benoliel.
Álvaro Espada, parte então nesse contingente do Cais de Santa Apolónia em Lisboa, Tejo, barra fora a bordo de um dos 2 vapores disponibilizados pelos britânicos, naquele embarque, terça-feira, 21 de Agosto de 1917, com duas placas de zinco ao peito com o Nº 40355 de identidade e o coração cheio de incertezas, após quatro longos dias de alto mar e quatro longas noites de ansiedade, a roer “Corned Beef” ração fornecida pelo Exército britânico.
Em França. - Tropas Portuguesas do C.E.P.
no porto de Brest deixando os transportes.
No sábado, 25 de Agosto desembarca em terras de França, baía de Brest, porto na Bretanha. Pais de clima áspero e brusco, comum ás zonas do norte, e húmido das planícies muito banhadas, de Inverno longo e Primavera súbita, Álvaro, amachucado e gebo de vir estirado no convés, com a cara enfarruscada com uma barba de quatro dias, a enfrentar o frio húmido de França, que segundo os meteorologistas em Agosto de 1917 o grau de pluviosidade apresentava-se dez vezes superior ao normal, e o Inverno o mais rigoroso do século XX.
A guerra química moderna surge na I Guerra Mundial para superar a luta nas trincheiras, derrotando o inimigo com gases venenosos. No conflito, as armas químicas mataram ou feriram cerca de 800 mil pessoas. A substância mais conhecida era o gás mostarda (de cor amarelada), capaz de queimar a pele e produzir danos graves ao pulmão quando aspirado.
Álvaro e seus camaradas aprendem a utilizar os apetrechos anti – gás e a teoria e a prática de fungar o "gás mostarda" e o "gás maçã" numa das escolas de instrução de Gás do C.E.P., em Mametz ou de Herbelles.
“Mal agasalhados e instalados, os portugueses, habituados a um clima ameno, encontraram nas temperaturas baixas, muitas vezes negativas, na elevada pluviosidade e na lama alguns dos seus principais inimigos. Mas também a alimentação constituiu um grande problema. Habituado a ingerir elevadas quantidades de alimentos, o soldado português dispensou de bom grado as cientificamente estabelecidas rações de combate britânicas, o “Corned Beef”, em detrimento do bacalhau acompanhado de batatas e hortaliças frescas, cultivadas na retaguarda, da carne de porco com feijões ou bifes com batatas e saladas, refeições regadas invariavelmente com vinho e café. Assim à nostalgia da guerra juntava-se uma fome saudosista.”
Photographia de 1917 / 1919
Álvaro (o 3º da fila encimada) com a farda de cotim do C.E.P.,
mais quatro camaradas do exército, em França
Aproximava-se o Outono e Álvaro ao fim de 4 dias de estadia, baixa ao Hospital no dia 16 de Setembro, onde permanece dois meses, e só vem a ter alta do Hospital a 16 de Novembro.
A 5 de Novembro o Comando do C.E.P. tinha assumido a responsabilidade da defesa do Sector Português na frente. Estava subordinado ao 1.º Exército britânico, comandado pelo general Horne.
Álvaro regressa novamente a França onde desembarca dia 2 de Março de 1918. Chegado o Outono desse ano, a 30 de Setembro baixa novamente ao Hospital de Campanha “Ambulância 5”, no dia 4 de Outubro é evacuado para o Hospital de Sangue “H.S.8”, e no dia 10 é evacuado para o Hospital da Base “H.B.1” mais dois meses de hospitalização, só vem a ter alta no dia 12 de Novembro. As sucessivas baixas hospitalares e largos períodos de internamento, nomeadamente no período de Outono, mostram que Álvaro estava com uma saúde débil, e possivelmente seria doença pulmonar, até que o seu corpo nunca mostrou cicatrizes físicas exteriores que justificasse o internamento.
Carroça do serviço de Saúde do Exército Português.
Conforme o extracto do Livro: “A Medicina e a Guerra, por Christopher Spry”
(A guerra de gases acrescentou subitamente um total de 185 000 vitimas à carga já pesada dos Hospitais. Pelos efeitos dos gases 9 000 morreram. Estes queimavam a pele ou afectavam os pulmões e os condutos respiratórios cerca de uma hora após terem sido respirados. A Pneumonia ou o fluido dos pulmões provocava a morte ou a destruição permanente do tecido pulmonar...).
Finalmente no dia 13 de Abril do mesmo ano, Álvaro embarca de regresso a Portugal com a 9ª Bateria de Artilharia de Guarnição a bordo do vapor de carga Britânico “Northwestern Miller”, numa viagem que durou 6 dias, é no sábado, 19 de Abril que desembarca no cais fluvial de Santa Apolónia em Lisboa, para finalmente celebrar o domingo de Páscoa com os seus na sua terra natal.
Armistício
Estima-se em cerca de 5000 o número de soldados do Corpo Expedicionário Português que regressam, do teatro de guerra na Flandres francesa, com tuberculose.
A moral do exército era tão baixo que houve insubordinações, deserção e suicídios.
Mas o nosso Veterano da Grande Guerra, orgulhoso de ser Português, Álvaro de Sousa Espada, como patriota empenhado de forma determinada e corajosa cumprira assim o seu dever para com a pátria e com a humanidade, regressa vivo mas não ileso.
Álvaro ainda mal refeito do pesadelo, após os intermináveis 20 meses do inferno da guerra, o ex-combatente regressa vivo mas não ileso.
É por meados de 1920 que volta então à Fábrica Nacional de Cordoaria, como Tecelão.
É por meados de 1920 que volta então à Fábrica Nacional de Cordoaria, como Tecelão.
Por volta do mesmo ano, Álvaro conhece uma jovem viúva, Júlia da Silva, a quem a vida também se tornara madrasta, por quem se enamora e vem a casar na manhã Primaveril, do Domingo de Páscoa, 27 de Março de 1921, Álvaro de Sousa Espada com 25 anos de idade, casa com Júlia da Silva de 25 anos, na 4ª conservatória do Registo Civil.
Deste matrimónio nasceu o primeiro varão, segunda-feira 13 de Março de 1922, Emílio da Silva Espada e três anos mais tarde, nasce uma menina, no dia 12 de Junho de 1925 numa Sexta-feira véspera de S. António, Catalina da Silva Espada (minha mãe).
Mais tarde nasceram também duas meninas gémeas que faleceram pouco tempo depois.
Em Abril de 1932, dá consentimento a Júlia, de adoptar Joaquim Fernandes da Silva um sobrinho com sete meses de vida, órfão de mãe filho do seu cunhado Manuel Polido.
Álvaro que nessa altura era operário chefe da Cordoaria Nacional, tinha agora sintomas agudos da tuberculose pulmonar, «o bacilo de Koch», estava tísico, como vulgarmente se chamava, era o fim precoce de uma carreira promissora, seria esta a sua cruz que o condecorava da Grande Guerra .
Photographia à la minute dos anos 30.
Álvaro de Sousa Espada, operário chefe tecelão da Cordoaria Nacional,
encimado ao centro do Grupo de trabalho
Álvaro de Sousa Espada, operário chefe tecelão da Cordoaria Nacional,
encimado ao centro do Grupo de trabalho
Álvaro sabia que enfrentava agora outro combate mortal, não tombara na batalha de La Lyz, viria perecer na sua Pátria. Demasiado pálido e frágil, devido à sua fraqueza e perda de peso, dor torácica e tosse persistente, por vezes com hemoptises (sangue na expectoração), suores nocturnos e febres altas provocadas por uma tuberculose impiedosa, fá-lo caminhar regularmente para o dispensário da Assistência Nacional aos Tuberculosos, fazia-se acompanhar de um escarrador de bolso que era atribuído aos portadores de Tuberculose, para evitar o contágio da doença, a Pharmacopeia da época não lhe deixou alternativa. Também a família era acompanhada pelo Dr. Vergilio Paula da Calçada do Galvão, que ia rastreando Júlia os seus filhos, para a hipótese de possível contágio.
Até à época só era conhecida a Penicilina que não tinha efeito sobre a Tuberculose, na altura ainda não existiam tuberculostáticos.
Chegariam mais tarde com a esteptomicina e isoniazida, que mais tarde se acrescentaram dois ou três novos que chegaram até aos nossos dias, embora a procura tenha continuado pelo aparecimento de formas resistentes do Bacilo da tuberculose.
O médico aconselhou-lhe o ar puro, que é um poderoso aliado contra a doença, bons ares, ar rarefeito e seco pensava-se como clima ideal, boa alimentação e descanso por vezes chegava. Mas na verdade os sanatórios não tinham outro préstimo se não retirar os doentes da população, até ser descoberto o antibiótico para a tuberculose, é com esperança vã, já muito doente que é então internado para repouso absoluto e acompanhamento no Grande Sanatório do Caramulo, a maior e melhor estância sanatorial do País. Este agora hotel, era exclusivo dos militares, sempre distintos e como casta tratados.
Enquanto isso doente, fechado, cheios de sombras e fantasmas do passado e das memórias singulares que o tempo levou, olhava o vale distante, descansando, sonhando, recordando e fruindo os dias de sol nas cadeiras de onde se via a planície, a planície distante onde a vida continuava e sem querer o esquecia. Vivendo fora do mundo e do tempo, aguardando que a cura da tuberculose pudesse talvez um dia chegar, obedecendo a rituais médicos, protocientíficos, pouco ou nada havia a fazer, era incurável. Durante o período de internamento, por aqui, no Caramulo, terra nascida num alto da montanha do mesmo nome, Álvaro comunica-se com a família por cartas e postais. Quarta-feira, dia 24, de Agosto de 1932 escreve um postal para o seu filho Emílio da Silva Espada. Talvez esta fosse a última lembrança que Álvaro enviava para o seu filho, numa partilha de descobertas, que nunca puderam fazer juntos, enviava-lhe um postal dos moinhos movidos a água da bonita região do Caramulo.
O Outono de 1932
Sopram as primeiras brisas de Outono, as folhas descem dos galhos aos poucos. E ainda que isso traga consigo uma certa nostalgia, é o prenúncio de um novo ciclo que vai começar. Chegou o fim que dará lugar a um recomeço da vida.
Segundo diz a sabedoria popular, que:
“ ao cair da folha morre muita gente”.
“ ao cair da folha morre muita gente”.
Na quinta-feira, 10 de Novembro de 1932, véspera de S. Martinho, Álvaro sai com alta médica do Sanatório do Caramulo em fase terminal, a sua degradação foi contínua e galopante, e todas as tentativas feitas no sentido de travar a doença foram infrutíferas, de forma a tornar o homem num pedaço de quase nada.
Agasalhado por um cobertor, Álvaro faz a viagem do Caramulo para casa numa ambulância acompanhado por um enfermeiro, que o auxilia até ao leito, já não resiste ao cair da folha desse fatídico Outono, nada que já não tivesse sentido em terras de França, ou em Inglaterra enquanto soldado aliado, como um prenuncio de morte, mas este era o seu ultimo Outono de sofrimento, enquanto sua mulher, lacrimeja ás escondidas pelos cantos da casa, Álvaro jaz inerte num pequeno divã à parte da família, à espera de ser embrulhado, até à eternidade, numa mortalha de esquecimento, onde veio a falecer cinco semanas depois, enfraquecido pelas esperadas e violentas hemoptises de tísico, (hemorragia alveolar difusa) que o levam à agonia da morte, Júlia tenta atenuar o desespero do sofrimento com toalhas embebidas em água fria que lhe refrescava as temporas, é então junto de sua família, que cai esta folha da nossa árvore, Álvaro entrega a sua alma a Deus, ás 16 horas de Domingo, dia 18 de Dezembro, com 36 anos de idade, vitimado pela Tuberculose pulmonar.
Imagens reais da 1ª Grande Guerra
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